‘Televisão tem telespectadores; cinema tem platéia; rádio, ouvintes; jornais, leitores; a internet tem usuários, cada um deles com um mouse na mão. Isso muda tudo.’ Com uma frase muito reflexiva, podemos dizer, como toda frase reflexiva deve fazer, muito mais do que é meramente exposto. O pensamento nos faz pensar o que realmente queremos dizer com o termo web 2.0. A princípio, tudo parece meio óbvio, mas com um pouco mais de atenção vemos uma semelhança incrível com o que falamos ser o nosso futuro e o nosso admirável presente.
A televisão tem telespectadores. Eles sempre foram muitos. Massivamente muitos. No Brasil, por exemplo, mais de 90% dos lares possuem sinal de TV. A televisão sempre foi considerada o maior dos maiores veículos de comunicação de massa. Por que comunicação de massa? Porque a TV não é customizada, não é definida, é projetada para um grupo composto por um gigantesco número de, digamos, passivos telespectadores. A TV digital promete interatividade, é verdade, mas com um ano de implantação no Brasil apenas 0,5% dos telespectadores aderiram ao sinal.
O cinema tem platéia. Platéias cada vez menos numerosas. Cinemas cada vez mais vazios. Ingressos cada vez mais caros. DVDs cada vez mais distantes da realidade econômica das pessoas. O novíssimo formato Blue-Ray comete o mesmo erro do seu ancestral: ter um preço incompatível com a realidade. A saída? A pirataria tomou conta não só de países emergentes, como a China, a Índia ou o próprio Brasil, mas também os países primeiro-mundistas. Copiar um filme hoje é barato, simples e, principalmente, caseiro. Só que uma coisa não mudou: nós copiávamos e não modificamos o conteúdo, não produzíamos nada de novo. O produto ainda era de meras platéias passivas de cinema.
O futuro do planeta é digital
O rádio, por sua vez, tem ouvintes. Ouvintes cada vez mais plugados em iPods e players portáteis. Com a popularização do formato MP3, você escuta o que quiser, quando quiser e onde quiser. Não depende mais de sinal. Não se preocupa se na região em que você está passando, por exemplo, uma determinada rádio possui outro gênero musical. Dispare do seu. Você escolhe seu repertório. Seus 40, 80 ou 120 GB de repertório musical. Mas, novamente, não produzíamos conteúdo. Ouvíamos o que os outros produziam. O que os grandes meios produziam. Não interferíamos diretamente. Passivos ouvintes de players.
Nos jornais, os leitores. Leitores cansados de determinadas linhas editoriais ultrapassadas. Leitores cansados da falta de conteúdo personalizado, diferente ou ousado. Leitores até preocupados com a questão ambiental. Cortar árvores, hoje, não é bem visto por ninguém. Se não lermos o jornal A ou o B, vamos nós fazer o jornal C? Não. Produzir conteúdo impresso sempre foi muito caro no nosso mundo. Mais uma vez, passivos leitores.
Por fim, ela, a internet. A internet tem usuários, cada um deles com um mouse na mão. Isso muda tudo. E tudo muda isso. Podemos interferir na programação da TV, baixar filmes, produzir podcasts que se transformam em verdadeiras rádios ambulantes, portáteis, customizadas, personalizadas, e podemos difundir conhecimento que nenhum impresso poderia dar conta. É a web 2.0. A internet dos usuários-produtores. Os consumidores de informação passaram a produzi-la. E produzi-la de maneira frenética, em uma escala nunca antes imaginável. E, ao mesmo tempo, temos em nossas mãos um acesso tão grande de informações que, às vezes, torna-se incompreensível para nós. A web 2.0 se traduz nisso: ela não tem tradução. Ela vai significar o que nós quisermos que ela signifique. O futuro do planeta é digital. O futuro do planeta vai ser o que nós quisermos que seja, o que nós produzirmos e publicarmos. O futuro do planeta já começou. A web 2.0 está aí. A web 2.0 é você.
Texto no Observatório da Imprensa.