Quem apostou cegamente nas redes sociais como alternativas consolidadas de uma nova opção de mídia precisou acalmar seus ânimos, pelo menos por enquanto. O excesso de informações gerado por esses canais tem criado ruídos bem graves na maneira como um público é informado e, consequentemente, constrói suas próprias visões e pensamentos sobre determinados assuntos.
Explico. Quem der uma passada rápida por canais como o Twitter e, principalmente, o Facebook, irá deparar com uma enxurrada colossal de conteúdo analítico por parte dos usuários. Esse conteúdo é recheado de visões particulares, apostas teóricas e muita, mas muita coisa que apenas é repassada, sem que o menor crivo jornalístico ou acadêmico seja levado em questão.
Pegue o caso das manifestações na Venezuela, por exemplo. De acordo com as redes sociais, se você se informar através das principais emissoras de televisão e jornais do Brasil, você não passa de um alienado que está sendo radicalmente manipulado por uma imprensa golpista que está “mentindo” sobre os fatos que acontecem no eterno reduto de Chávez, distorcendo consideravelmente para cima o que de fato lá ocorre. Porém, ainda segundo as mesmas redes sociais, se você estiver se informando com base nas principais emissoras de televisão e jornais do Brasil, você não passa de um alienado que está sendo radicalmente manipulado por uma imprensa golpista que está “mentindo” e ocultando toda a verdade que extravasa das ruas venezuelanas, pois a imprensa está sufocando as informações em prol do governo brasileiro.
A quem recorrer?
Entendeu? Desinformação é isso, é quando tudo e todos acham que você sempre está errado e não pode construir suas próprias versões sobre o fato. Não há uma única verdade sobre um determinado ponto, pois cada um imputa seus próprios olhares, mas os canais sociais estão contribuindo – e muito – para que o cidadão comum fique completamente desorientado no meio desse show pirotécnico de especialistas da internet.
Escolher bem as suas fontes nunca foi tão primordial para a construção de um pensamento crítico de um país. As redes sociais podem até servir como base para que centenas de milhares de pessoas que não tinham voz opinem sobre tudo e todos, mas isso tem gerado graves sequelas para o jornalismo, seja ele em prol ou contra o governo. É de suma importância ter em mente que os riscos estão cada vez mais evidentes ao se informar apenas por meros comunicadores e deixar de lado que profissionais ou especialistas construam as narrativas.
Ao afirmar que a imprensa do país oculta ou maximiza um acontecimento, estamos colocando um dos pilares mais básicos de uma sociedade justa e moderna sob desconfiança. A quem iremos recorrer? Aos opinadores da internet? Aos especialistas de Facebook? Iremos deixar que a curadoria de informações fique a cargo de um público que cria exageros opostos sobre uma mesma lógica de pensamento?
Informações em excesso
Quando temos uma nação refém dos achismos e colaboramos para uma imprensa acuada, com medo de emitir suas visões editoriais – novamente, seja de esquerda ou direita – pois ameaças e agressões físicas começam a ser constantes, estamos contribuindo para uma nação ainda mais desigual, ainda mais caótica, ainda mais perturbada e boçalmente com níveis ainda mais graves e ardilosos de miopia intelectual.
Estamos na era do conhecimento, na era do prosumer, o usuário que consome e cria conteúdo. Estamos na era das informações em excesso, na era da geração digital. Só não devemos esquecer que a informação constrói mentes e ergue países, mas a desinformação corrói o homem e pode destruir uma geração inteira.
Texto no Observatório da Imprensa.