Ao chegar a um escritório ou consultório não é incomum sermos alocados nas famosas salas de espera. É lá que passamos boa parte do tempo, seja da reunião ou da consulta médica, já que o fato propriamente dito acaba sendo sempre inferior a 15 minutos. Para passar o tempo, olhamos de um lado para o outro e tascamos a mão em uma revista, geralmente antiga, e acabamos lendo alguma matéria ou reportagem fria, ou até mesmo algum escândalo político de um passado recente. Bom, esse tempo está se esgotando, pois hoje em salas de espera o que mais vemos é pessoas esperando impacientemente serem chamadas e, enquanto isso, tascam a mão em seus bolsos e pegam seus smartphones, aparelhinhos que são capazes não só de ajudar a passar o tempo, mas substituem magistralmente a revista de consultório.

Com um smartphone podemos ler notícias atuais, atualizadas em tempo real, conferir vídeos, o trânsito, acessar nossas redes sociais, compartilhar fotos, ouvir músicas, estudar e, quem sabe, trabalhar tal como se estivesse em uma mesa do escritório. Grande parte desse tempo acabamos no Facebook, já que em um mesmo local temos entretenimento, informações diversas e contatos com os amigos. O Facebook é a revista de consultório 2.0. O Facebook substituiu aquela velha revista com matérias frias e possibilita que acessemos um mundo através dele. O que isso muda? Bom, o impacto no número de assinaturas não irá mudar drasticamente, já que um consultório não deve ser o principal público de revistas como a VejaÉpoca ou um jornal como o Estadão. O que muda é que mesmo sutilmente (sem perceber) as pessoas estão mudando – e aqui de forma drástica – seus hábitos de consumo de mídia, informação e conteúdo, porém muitos meios ainda não compreenderam profundamente o fato.

A questão não é apenas adaptar o veículo a um mundo mais moderno, mais dinâmico, mas sim, desenhar uma linguagem igualmente moderna, dinâmica e que reflita o que esse público procura. Se antes as pessoas se limitavam e se contentavam com três ou quatro revistas em uma sala de espera, hoje elas querem adentrar freneticamente um universo digital e se transportarem para uma frequência paralela que as ajude a passar o tempo – seja com diversão, trabalho ou notícias.

Mudança radical

Repito: a linha central não é apenas fazer um comparativo com salas de consultório, mas sim, demonstrar que em dezenas de milhares de lugares onde o jornalismo penetrava única e exclusivamente como fonte de informação hoje encontra concorrentes dos mais variados tipos, formações e depara, em alguns casos, com certa resistência, pois muitos preferem ler portais alternativos com opiniões mais originais sobre os fatos cotidianos.

Não há um novo jornalismo, pois seus moldes para com a sociedade devem ser sólidos e imutáveis. O que há são novas maneiras de se consumir conteúdo e, principalmente, novas maneiras de se produzir conteúdo. Quem consome jornalismo mudou e quem produz de forma profissional, como um jornalista, também deve ter em mente que os parâmetros que serviam como norte hoje já não são tão claros.

As lacunas estão aí. Quem diz que o jornalismo morreu é estúpido. Quem diz que o jornalismo está morrendo é mais estúpido ainda. Quem acredita nessa morte é tão estúpido que não há adjetivos existentes para classificá-lo. Mas quem vê nesse cenário novas alternativas de atuação, em meio ao caos informacional e estrutural pelo qual o jornalismo como mercado tem passado, tem encontrado coisas interessantes que podem mudar radicalmente o modo de se fazer jornalismo: mídia Ninja que o diga.

Texto no Observatório da Imprensa.

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