Possuir apenas uma aparência agradável, uma voz marcante ou um texto inconfundível por sua qualidade impecável já não é mais o suficiente. Quanto mais dinâmico e instantâneo fica o jornalismo digital, mais complexas suas formas se apresentam. Além de integrar o leitor em sua pauta diária, o jornalista contemporâneo deve ter um leque muito mais amplo de habilidades, as quais jamais imaginou precisar possuir.
O profissional da notícia deve, além de escrever um artigo de forma categórica e bem estruturada, saber programar uma página ou até mesmo todo um site na internet. A linguagem pura das letras formando palavras deve andar alinhada com a linguagem de códigos que se transformam em portais, layouts jornalísticos e até mesmo simples composições gráficas. É o chamado hacking journalism.
O fato de apresentar de maneira presente uma reportagem agora passa a exigir uma formação e visão mais amplas. Editar, formatar, inserir animações, converter um formato específico ou entender de mecanismos e aplicativos complexos passa a ser tarefa do repórter de vídeo. Há grandes exemplos de jornalistas que trabalham de forma autônoma, produzindo a matéria e formatando-a inteiramente em uma ilha móvel, entregando o vídeo logo em seguida às grandes emissoras e sendo pagos quando o conteúdo for exibido.
Jornalismo é transformação
Até mesmo quem trabalha com rádio já deve se adaptar às novas linguagens exigidas pelo meio. Softwares de edição devem ser, mesmo que basicamente, manipulados pelos jornalistas. A rádio web possibilita que um único profissional produza, edite e envie um conteúdo jornalístico para qualquer parte do planeta. Isso não é revolução, é apenas um aperfeiçoamento de uma profissão.
A internet não muda apenas a maneira como o jornalismo deve ser produzido e enviado ao seu público, mas interfere também no modo como os jornalistas encaram suas profissões. A máxima de que um jornalista é, na verdade, um especialista em generalidades, sofre um alto grau de complexidade e obriga a que você se especialize cada vez mais em um número cada vez maior de generalidades.
Esse ponto, apesar de levar consigo um caráter melodramático, contribui positivamente para o crescimento do profissional de comunicação. Um jornalista que está mais acostumado com adaptações e aprendizagens constantes será mais facilmente absorvido pelos novos mercados da comunicação. O jornalista que se recusar a andar com passos largos, achando que sua profissão se restringe apenas à produção de conteúdo e nada mais, será, com o tempo, descartado pelos novos tempos hiperconectados em que vivemos. Jornalismo é transformação. Quem não se transforma não é jornalista.
Texto no Observatório da Imprensa.