Com a decisão do Centro Universitário Senac de São Paulo, assim como tantas outras universidades que suspenderam ou extinguiram a graduação em Jornalismo, como a Universidade de Uberaba (Uniube), a Universidade Mogi das Cruzes (UMC) e a Faculdade de Campinas (Facamp), podemos constatar dois fatos relativamente importantes.
Primeiro, a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) em abolir a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, em junho do ano passado, trouxe, em suma, negatividade e obscuridade ao ensino superior no país. Achar que uma profissão que necessita de doses consideráveis de intelectualidade não necessita de uma formação técnica e acadêmica é desconsiderar toda uma classe que desde sua criação tem dificuldades em se consolidar uniformemente, além de desclassificar todos os profissionais já graduados ou que estavam a passos do título de bacharel.
O fato fere também a própria academia. O Brasil é extremamente pobre em estudos sobre a comunicação em diversos pontos específicos, o que dirá sobre o jornalismo. O Intercom mal consegue produzir periódicos relativamente consideráveis em relação aos estudos realizados em outros países do mundo. Agora, com o fim do diploma, essa tendência de artigos e dissertações certamente irá diminuir.
Formados, não formados e quase formados
O segundo fato importante na decisão do cancelamento ou suspensão de cursos superiores em Jornalismo prova que tais institutos acadêmicos focam unicamente o lucro, fazendo estimativas negativas à continuidade, já que não era economicamente viável mantê-los. A qualidade do ensino agradece. E, ainda, tal decisão expõe um ponto positivo em todo esse embaraço profissional-acadêmico: se tais estudantes, futuros profissionais da imprensa e do jornalismo, desistiram no primeiro obstáculo imposto a eles, o que seria dos mesmos após a formação? A resposta, tristemente, é que seriam apenas mais uma fatia percentual nesse enorme mercado já saturado de formandos e comunicólogos despreparados e desmotivados.
A classe dos jornalistas já vem há tempos se prostituindo das piores maneiras, não conseguindo nem ao menos um entendimento por parte dos próprios integrantes. Com a abolição do diploma e o fim dos cursos de Jornalismo em diversas faculdades e universidades, tal setor profissional será, cada vez mais, dividido entre formados e não formados e, agora, juntando os quase formados com os jornalistas de escolaridade básica.
Covardes e temerosos
Não, não se fazem jornalistas em bancos universitários, apenas. Não seremos hipócritas em achar que ao entrar em uma instituição acadêmica somente com a escolaridade média fará, quatro anos depois, um profissional extremamente respeitado e preparado. Porém a academia era, definitivamente, um excelente caminho a ser trilhado, tanto para a construção de jornalistas como para a formação de futuros mestres e doutores, pesquisadores em comunicação social.
Entretanto, não sejamos hipócritas, novamente, em achar que iremos construir profissionais com cursos de algumas horas, ou ainda em “cursinhos on-line”. O Brasil perde, a academia perde, os profissionais perdem e toda a imprensa nacional perde com a falta de profissionalismo técnico e acadêmico. Porém, ganhamos em um ponto: aquela massa de estudantes que desistiu na primeira barreira imposta, mesmo com mensalidades na casa dos mil reais, mudou de ideia e não mais serão jornalistas, para o nosso bem. Tudo o que o Brasil não precisa é de mais jornalistas desqualificados, ainda mais jornalistas covardes e temerosos antes mesmo de começarem a trabalhar.
Texto no Observatório da Imprensa.