Avaliações acerca das novas competências que cabem ao jornalismo pipocam por todos os lados. Profissionais e especialistas de diferentes áreas já direcionam olhares cada vez mais focados na ideia de que o jornalismo é imutável em seus preceitos básicos, mas que necessita urgentemente de certa “incrementação” à profissão.
Dados e ciência cognitiva são bons exemplos de setores que estão mais próximos dos jornalistas por pura “imposição” dos novos acontecimentos, que já não são tão novos. A capacidade de lidar com a análise de dados brutos e codificá-los é uma das fortes tendências apontadas pelos pesquisadores para o jornalismo. Se somarmos a isso todo o ecossistema que envolve a ciência cognitiva, o perfil que vem se criando do novo jornalista é o de um profissional cada vez mais robusto, mais completo.
Porém, setores “mais próximos” da comunicação também estão na mira da profissão. O marketing, por sua vez, mesmo possuindo conceitos estruturais diferentes do jornalismo, é uma das principais ferramentas que jornalistas estão aprendendo a valorizar. Um sabe vender, criar estratégias específicas; o outro sabe produzir informações e notícias. Juntar essas duas frentes em um mesmo profissional é essencial para encarar os desafios do jornalismo digital.
É possível observar universidades e faculdades pelo Brasil que já começaram a inserir tais disciplinas em suas grades nos cursos de jornalismo – lá fora já faz um tempo. É possível, ainda, apontar temas que eram classificados como ardilosos por muitos jornalistas, mas que estão se mostrando como essenciais para as novas configurações do dinâmico mercado global, como análise financeira e modelos de negócio.
Só falta os jornalistas entenderem
O jornalismo está perdendo suas características? Não, nada disso. O que vem acontecendo com o jornalismo é que tal profissão chegou ao limite da não mudança, ou seja, não é possível continuar fazendo o mesmo jornalismo de 200 anos atrás. Jornalismo é uma profissão puramente intelectual, não um trabalho de linha de produção. Adaptar-se aos novos públicos nunca foi opção, mas estratégia de sobrevivência, inclusive intelectual.
Volto a afirmar: isso não tem ligação alguma com mudanças ou impactos negativos na forma de atuação do jornalismo ou em sua funcionalidade básica para com a sociedade. O que muda são fatores que trabalham em perfeita simbiose com os preceitos éticos da imprensa. Não basta apenas produzir uma informação no mercado do século 21, pois é preciso saber vendê-la, compartilhá-la, administrá-la nos mais diferentes cenários, controla-la quando necessário e modificá-la conforme o feedback dos “jornalistas cidadãos”.
Nessa perspectiva, incluir novas disciplinas na grade de jornalismo não significa que iremos deturpar a profissão, mas sim, incrementá-la para que possa enfrentar os novos cenários da economia, os novos públicos, que na verdade não são novos, apenas possuem novos hábitos.
Tanto se fala em startups e empreendedorismo pelo próprio jornalismo, mas quando a sombra está em nosso tapete muitos ignoram a situação e partem da premissa que o jornalismo jamais irá mudar seus valores. Acontece que ninguém quer isso. O medo de mudança é inversamente proporcional ao que já está acontecendo: o jornalismo já mudou. Só falta os jornalistas entenderem isso.
Textno no Observatório da Imprensa.