Quando vemos o debate acerca do futuro do jornalismo impresso – incluindo nesse séquito a imprensa televisiva e de rádio –, observamos diversas projeções, análises e cenários que são traçados a partir de visões apocalípticas envolvendo uma das principais profissões de uma sociedade democrática. Entretanto, são raríssimas as vezes que vemos os críticos e gurus olharem primeiramente para os próprios umbigos. Sobre o que as mídias sociais mais discutem? O que os usuários dessas mídias mais debatem nesses meios? Quais são os principais pontos levantados por membros de comunidades? Na grande maioria das vezes, a resposta é a mesma: tudo aquilo que sai de relevante nas mídias tradicionais.
Com isso, chega a ser contraditório afirmar o fim do jornalismo impresso – ou tradicional – apenas apontando o frenético crescimento das mídias sociais pelo mundo. Em 2009, por exemplo, algumas pesquisas apontam que 90% do que era discutido na social media se originava na imprensa comum. Ou seja, como apontar o fim de uma profissão por causa de algumas ferramentas digitais se essas mesmas ferramentas necessitam da mídia tradicional para terem grande impacto para com o usuários?
Outro fator que nunca é debatido é quanto aos novos modelos de ações comunicacionais que se dão na internet. Sempre que um grande congresso ou seminário discute a comunicação e seus possíveis novos cenários, cases diferenciados e de sucesso são exibidos para o público. Porém, o que nunca se discute é que tais agências ou empresas que criam peças ousadas no mundo digital só dão seu sucesso como certo quando a grande mídia – ou mídia tradicional – divulga tais feitos.
Argumento patético
Ademais, uma mídia que tem como pauta a imprensa tradicional e que tem em suas mais ousadas ações um reconhecimento concreto só quando sai em um jornal impresso não pode ser considerada, então, uma mídia aniquiladora de conceitos. Talvez fosse muito mais racional arriscar que tais ferramentas digitais online serão grande aliadas da imprensa, e não suas inimigas. A cada vez que gurus e críticos discutem o fim do jornalismo, o próprio jornalismo usa as mídias sociais para demonstrar que tais levantamentos não possuem sequer uma fundamentação consolidada.
Aliás, que todos os meios como conhecemos atualmente serão impactados de certa forma, não há dúvida. Entretanto, enquanto as mídias sociais se pautarem pela imprensa, o jornalismo terá um campo fértil para prosseguir com sua atividade, já que tais meios não param de crescer entre os usuários de internet.
Apontar o fim do jornalismo e traçar como causa uma mídia que só o fortalece é patético. O que as mídias sociais realmente extinguirão são os tradicionais modelos de negócio, forçando a imprensa a procurar melhores maneiras que se adaptem ao novo modo de consumo informacional e ao dinamismo do digital. No mais, o jornalismo continuará fazendo o seu papel, mesmo não sendo, em um futuro próximo, de papel.
Texto no Observatório da Imprensa.