O jornalismo está mudando seus paradigmas de produção para acompanhar os novos hábitos de consumo informacional das pessoas. Ao contrário do que muito se diz, o jornalismo já percebeu a necessidade primordial de reformulações no que tange, principalmente, à forma de distribuir notícia. Não há mais espaço – e obrigação – de se discutir a contínua existência da imprensa.
Por décadas, e especialmente nos dias atuais, o jornalismo se demonstrou como uma necessidade cívica da humanidade. Quando vemos eventos de grandíssimo porte apontando o fim da mídia noticiosa profissional, só temos dois pontos para relatar: o tamanho da estupidez de muitos profissionais (muitos palpiteiros fora do mundo da comunicação) e o colossal vazio em que se encontram os níveis de pesquisa de muitas entidades.
Com isso, se faz necessário observarmos as características dessas mudanças, e não apenas a hipótese de que elas ocorram pois, de forma resumida, é mais do que correto afirmar que tais modificações já se encontram em curso. O jornalismo não irá esperar uma roleta russa para, aí, começar a mudar. O jornalismo já está em franca transformação.
Uma maior participação por parte dos leitores é o que mais chama a atenção dessas estruturas jornalísticas em fase de consolidação. Incluímos o leitor na conversa. O jornalismo passa a não mais ser apenas local, mas hiperlocal. O que isso significa? Significa uma maior segmentação e customização das informações. É possível se atualizar com o que ocorre em escala global, nacional, regional, local ou hiperlocal.
Redes sociais para se multiplicar
As ferramentas multimídias da era digital possibilitam ao jornalista trabalhar com públicos selecionados, fazendo com que muito mais interação seja colocada em prática, aumentando, desse modo, o nível de diálogo entre imprensa e sociedade. Um diálogo mais do que necessário, já que com a avalanche informacional em que muitos estão inseridos conseguir manter uma conexão com aquilo que mais se encaixa ao seu perfil é extremamente saudável e positivo.
Além da inserção do leitor no processo jornalístico, as mudanças podem ser enumeradas na simples adição de mecanismos digitais nas redações. Hoje é possível que um jornalista seja, de certo modo, uma ilha própria de edição, com capacidade de editar, fotografar, escrever, selecionar, compartilhar e produzir sozinho informações em aparelhos móveis, como notebooks, smartphones e tablets conectados, é claro, com a internet.
Outro grande recurso que só trouxe pontos positivos para a imprensa é a questão das redes sociais. Qual a importâncias dessas redes para o jornalismo? É simples: é nesse lugar que as pessoas estão consumindo grande parte de suas doses de informações diárias. São as mídias sociais, hoje, responsáveis por grande parte do tráfego de um portal noticioso, além de serem locais propícios para o compartilhamento de conteúdo informacional. O jornalismo usa as redes sociais para se multiplicar e tem conseguido tal feito com grande progresso e pouco alarde.
Como um camaleão
Contrariando muitos palpiteiros, as redes sociais vieram para maximizar o alcance do conteúdo jornalístico, e não só ampliar o acesso às informações. Atualmente é possível analisar todos os lados da notícia, inclusive o que não existe – nesse ponto entraria a questão do cuidado com as informações geradas na rede.
Com a web 2.0 e todas as ferramentas digitais existentes, o jornalismo consegue aumentar seu leque de alcance, possibilita que o leitor participe da produção da notícia e oferece a possibilidade de que todos possam compartilhar infinitamente aquele conteúdo, inserindo pontos de vista e contextualizações, além de colocar, pela primeira vez na história, a chance do internauta poder confrontar diversas posições, sejam ideológicas, políticas ou geográficas.
Por fim, com todas as centenas de possibilidades benéficas que a internet possibilita ao jornalismo online, insistir na tese de que a rede mundial de computadores irá matar a capacidade de produzir notícias chega a ser um ceticismo vicioso, tal como uma doença inexistente que é acionada para gerar uma espécie de autofrustração. E o jornalismo, ao contrário dos gurus apocalípticos, é capaz de se modificar como um camaleão sem prejudicar seus valores. Já os gurus…
Texto no Observatório da Imprensa.