O tema não é novo, mas tem sido alvo constante de debates acalorados. Por isso, comecemos do início: opinião é totalmente diferente de preconceito. Opinião é totalmente diferente de difamar e caluniar alguém. Não gostar de uma coisa ou não sentir qualquer apatia com um determinado assunto não o permite acionar seus adjetivos mais obscuros para elaborar uma ofensa “bem argumentada”.
Jornalistas são jornalistas e, por esse motivo, se tornam referências em certas assuntos de uma maneira mais rápida e fácil do que muitos outros profissionais espalhados por aí. O motivo? Jornalistas são pagos, entre outras tantas funcionalidades acumuladas nos últimos tempos, para opinar, para comentar, para refletir e fazer críticas sobre pontos específicos da sociedade, contribuindo para que a mesma consiga elaborar uma visão mais analítica sobre o mundo ao seu redor.
Porém, os profissionais da imprensa ainda estão em mente com a máxima de que eles falam e alguém escuta, ou eles escrevem e alguém lê. Muitos ainda não se deram conta de que aquela escuta de áudio vazada, no melhor estilo Boris Casoy contra garis, se desenvolveu e se estendeu para o ambiente digital. Emitir pensamentos racistas e preconceitos nos canais digitais – ou fora deles, em alguns casos – não passará desapercebido. O “áudio vazado” acontece dia e noite em qualquer canto deste planeta.
O comportamento nada profissional de alguns profissionais leva a crer que não são só as empresas de comunicação que estão passando por áreas de turbulência com as mídias sociais digitais conectadas em rede, mas os jornalistas, em suas vidas particulares, dentro de casa ou com a família, estão sofrendo com reações cada vez mais ardilosas por parte do público consumidor de informação.
Somos protagonistas observadores da história
Há uma parte dessas reações que têm por base o mero ódio contra os grandes conglomerados de comunicação. Porém há um segmento representativo que faz questão de demonstrar ao jornalista que a “opinião pública” não se revolta apenas com a situação caótica e desastrosa da nossa saúde ou educação, mas que também leva em conta o que os profissionais da imprensa estão emitindo como opiniões particulares em seus canais particulares.
Não há mais a “batida de ponto” na saída. O jornalista será referência assim como será menosprezado mesmo já fora do ambiente corporativo, mesmo que desligado, mesmo quando comentários tenham sido feitos de maneira “particular” com amigos e alguns contatos. Não há essa coisa de “alguns contatos” e nunca existiu essa coisa de “meu Facebook”, “meu Twitter” e por aí vai. Querem o fim da autonomia do jornalista? Creio que não. Apenas querem deixar claro que opinião é diferente de preconceito e que jornalistas devem ter mais atenção ao seu modus operandi nesses canais digitais por um único motivo: sua profissão é estruturada em uma grande e límpida vitrine. Todos estão de olho.
Por esse motivo, cabe ao jornalista ter em mente que a sua profissão, seja escolhida ou imposta, atuará onde ele estiver, independentemente de sua vontade. Na conversa de bar, no almoço entre família, na reunião com novos sócios, com políticos, com inimigos, na escola do filho, na rua. O jornalista é jornalista em qualquer lugar. Não é questão de ser workaholic, mas talvez a profissão de jornalista seja uma daquelas em que você não consegue tirar o “uniforme”. Não dá para não ser jornalista nem por um segundo.
Com isso, o profissional de comunicação deve ter a ciência de que suas atitudes influenciam a sociedade, seja de uma maneira micro ou macro, mas influenciam. Seus pensamentos e comportamentos se tornam referências para os demais, assim como seus pensamentos e comportamentos negativos se tornam nocivos para os que estão a sua volta. Somos especialistas em generalidades. Somos protagonistas observadores da história por profissão. Ter um pouco de cautela na hora de agir no ambiente digital é como canja de galinha de avó: não faz mal para ninguém.
Texto no Observatório da Imprensa.