O rádio levou cerca de 40 anos para alcançar a faixa dos 50 milhões de ouvintes. A TV, uns 15 anos. Já a internet demorou apenas quatro para atingir esse número. E a Apple? E Steve Jobs? Eles nem ao menos precisam lançar de fato o produto para que mais de 50 milhões de espectadores fanáticos aguardem ansiosamente o momento de adquirir uma nova moda.
A nova coqueluche que promete muito é o tablet da empresa da maçã, o iPad, que afirma ser o maior revolucionário das mídias impressas. O que o difere do Kindle, da Amazon? O iPad é mais completo, mais bonito e, mesmo se não fizesse nada, ele leva a logo da Apple, o que para muitos já é o suficiente para a aquisição e compra.
Ler revistas, jornais, livros, armazenar dados, ter conexão 3G. Tudo isso em um aparelho sensível ao toque com quase 10 polegadas de tamanho. O fim do jornalismo impresso? Muitos dizem que sim. Outros tantos afirmam que será a salvação dos jornais. Ou, se não for a salvação, será uma alavanca para que receitas e leitores cresçam consideravelmente.
Já matamos a TV, o rádio e o cinema. Eles se reinventaram sozinhos e ainda estão por aqui. O jornalismo impresso será o único que tem sua morte decretada há anos e que não conseguirá se salvar sem uma intervenção ‘divina’ de Jobs? No caso do jornal impresso, o buraco é mais embaixo. E sempre será mais embaixo.
Uma ação marqueteira
Apesar da internet, a TV ainda continua como um dos maiores e mais poderosos veículos de massa. Já no jornalismo, apesar da rápida queda no número de tiragens, a quantidade de títulos impressos obteve um aumento. São mais nomes nas ruas, porém são menos jornais circulando. O New York Times, o maior jornal do planeta – e um dos que mais sofre com essa queda de leitores – já admitiu que irá cobrar por seu conteúdo outra vez, a partir de 2011 – ou seja, o jornalismo impresso não está conseguindo se adaptar e criar um modelo de receita rentável e duradouro. Só nos resta apostar tudo, absolutamente tudo, no iPad? Isso parece ser bem perigoso.
No mais, o novo gadget da Apple não é revolucionário por um simples motivo: a tecnologia do iPad já estava aí quando ele chegou. Algo só é revolucionário quando quebra paradigmas, conceitos e tabus. Caso contrário, é evolução, não revolução.
Portando, é fato que esse novo ‘brinquedinho’ é, sem dúvida, uma ferramenta importantíssima para jornalistas no dia-a-dia, mas não deve garantir seus empregos se a empresa jornalística impressa não se recriar – e eu ainda aposto em uma reinvenção sozinha, sem intervenção de outros meios não jornalísticos.
Ademais, uma das mídias de maior credibilidade no planeta não pode se contentar com uma ação marqueteira de divulgação tecnológica como sua grande aposta. A Apple tem tudo para não salvar o jornalismo impresso, mas contribuirá enormemente em uma questão primordial: ou o jornalismo impresso cria uma revolução – e não evolução – ou nem mesmo Steve Jobs irá fazer com que reflitamos a respeito do futuro do jornal no mundo.
Texto no Observatório da Imprensa.