O Twitter é uma excelente ferramenta de divulgação de notícias. Traz, em 140 caracteres, informações básicas que devem atrair a atenção do leitor, tal como as manchetes dos jornais impressos sempre fizeram, só que com funcionalidades extras, já que pode ser instantâneo na atualização, com mobilidade no acesso e ainda incluir um link que pode direcionar o usuário para um artigo mais completo, um vídeo, áudio ou até mesmo opiniões de outros leitores.
Que isso é o básico, todos sabemos. Entretanto, é possível extrair algo além do que um mecanismo de difusão de conteúdo? O Twitter já se configurou como a terceira fonte de tráfego da revista Veja, mas limitar a rede social de microblogs apenas a um sistema RSS dinâmico é simplório demais. Podemos usar a rede social para buscar diferentes interpretações de um mesmo assunto. É possível analisar tendências de comportamento dos leitores, o que impactaria diretamente o modo como se produz notícias e reportagens. Há ainda a possibilidade de testar na rede pautas que podem se transformar em conteúdos mais completos e analíticos.
Para os leitores, o Twitter funciona como um canal aberto de feedback, já que é admissível estabelecer uma comunicação horizontal entre jornais e jornalistas, demonstrando amplo apoio às opiniões emitidas ou total desconforto pelas posições tomadas. Isso gera um sistema dinâmico de obtenção de conteúdo, mas cria entraves delicados para os meios de comunicação e seus profissionais: o Twitter é uma complementariedade do jornalismo?
Centralizadores únicos
Sim e não. É possível utilizar a rede social para publicar drops informativos e, posteriormente, lançar mão de links com conteúdos mais extensivos e completos. Porém não é funcional que os meios utilizem tal canal apenas como um difusor de notícias, já que o Twitter pode ir muito além dessa funcionalidade e ser usado como um centralizador de furos jornalísticos, alinhando a posição do jornal aos perfis pessoais dos jornalistas e enriquecendo de maneira ímpar todo o contexto.
As recentes complicações que envolveram jornalistas que divulgaram em suas contas pessoais informações exclusivas antes mesmo de enviarem o conteúdo ao meio, apenas demonstram como o jornalismo ainda está despreparado para lidar com as redes sociais. O medo constante e simplório quando algo desse tipo acontece só demonstra uma única frente de atuação – que vem se corroborando frágil e errônea.
O jornalismo está com medo de perder a audiência dos portais para as redes sociais, assim como temeu a morte do impresso para a internet. O jornalismo não se preocupa em como utilizar as redes sociais para maximizar seu impacto na sociedade, apenas se fecha na busca por alternativas rentáveis para sua produção informativa, insistindo em usar os portais como centralizadores únicos.
Redes sociais como aliadas
Por esse motivo, o jornalismo vem utilizando o Twitter como mera ferramenta de divulgação, ainda desconhecendo ou não utilizando suas reais e importantes contribuições. Saber estudar o público, analisando seus gostos, visões e comportamentos, daria ao jornalismo um poder funcional de produzir notícias customizadas e segmentadas, atingindo setores específicos e evitando o desperdício de tempo por parte dos jornais e dos leitores, já que a informação seria oferecida somente ao público que realmente demonstraria interesse.
Isso evitaria, também, mais projeções apocalípticas quanto ao futuro do jornalismo. Se os jornais soubessem trabalhar e utilizar as redes sociais como aliadas, tanto a imprensa quanto a sociedade estariam se beneficiando. Limitar o uso dessas ferramentas fantásticas em aplicabilidades básicas só produziria mais do mesmo, deixando até mesmo os jargões clichês repetitivos demais.
Texto no Observatório da Imprensa.