Qual o tipo de conversação que o jornalismo procura ter ou tem tido nas redes sociais? Já comentei em outras ocasiões que o jornalismo não sabe utilizar o Twitter e que blogs e jornalismo são canais complementares, não conflitantes. Mas, em um cenário macro, como anda o jornalismo em uma era tomada por redes digitais conectadas em rede que dão voz e vez a centenas de milhões de possíveis contribuintes e colaboradores?
O jornalismo não deve estar nas redes sociais, mas sim fazer parte de todo um contexto mais complexo e estruturado. O jornalismo deve ser redes sociais, estruturando um formato que não fiquei aquém do mínimo esperado pelos usuários e consumidores de informação. Prova disso é a lentidão que a imprensa possui em relatar fatos que nasceram dentro do ambiente digital. Reportar algo dias depois não faz o menor sentido e, pior, só reposiciona a afirmação que o jornalismo está perdendo o bonde da era digital.
Não é novidade para ninguém que qualquer um pode ser um – bom – produtor de conteúdo nas redes sociais. Também não é novidade alguma a rapidez e instantaneidade com que a internet trabalha. Quer usar redes sociais? Então seja sociável nas redes. Não há espaço para um jornalismo tardio e que ainda procura se posicionar diferentemente dos usuários que lá já estão. Sim, sem conversa o jornalismo – e os jornalistas – será engolido pela camada social digital que aflora e se solidifica cada dia mais.
É inadmissível um jornalismo que se propõe a fazer parte das redes sociais e pede colaboração dos usuários, mas quando um fato ocorre no universo digital sempre é o último a saber ou, pior, ainda tem a velha postura de chamar os leitores de “repórteres cidadãos”, mas no momento da publicação classifica todos como “cinegrafistas amadores” ou “usuários afirmam”, sem dar a devida credibilidade e o respeito merecidos.
O digital é cultura
O jornalista e as empresas jornalísticas que teimarem em tratar as redes sociais como meros canais expositivos e não participativos devem sofrer e, principalmente, perder peso no cenário jornalístico. A mesquinharia com que alguns profissionais da imprensa ainda tratam os blogs ou a lentidão que veículos de comunicação têm em entender algo nativo do ambiente digital só reforça a teoria que muita coisa precisa ser reformulada em todo esse contexto.
Mais uma vez vale a máxima de que o digital é mais do que estratégia ou ferramenta, é cultura. Se o veículo ou o jornalista não estão preparados para absorverem todas as possibilidades e exigências que o universo digital propõe, é hora de colocar ar cartas na mesa e discutir, mais uma vez, qual é o papel do jornalismo nesse ambiente. As pessoas ainda procuram por filtros e curadores de conteúdo e classificam os jornalistas e os jornais como fontes confiáveis. Agora só falta o jornalismo e os jornalistas fazerem o mesmo.
Texto no Observatório da Imprensa.