Desde transformações profundas no poder de concentração até mesmo à instantaneidade com que queremos mover nossas atividades, as redes e mídias sociais imputaram modificações diretas no modo como nos comunicamos e ficamos informados, já que sem informação não há como se comunicar de modo eficiente em muitos contextos e cenários cotidianos.

No jornalismo, essas ferramentas obrigaram na reformulação de uma mídia centralizada, reflexiva e de mão única, para uma mídia descentralizada, instantânea e com várias vias de acesso. Isso pode fazer com que se perca em parte a atividade da reflexão, cedendo um lugar de maior destaque para a velocidade. Seria um jornalismo de distrações para um público de distraídos?

Por um lado, perdemos certo nível de qualidade, já que muitos jornais e jornalistas acabam criando o hábito artificial de publicar matérias de modo mais precoce, dando ênfase a essa cultura do imediatismo, que até permite artigos mais longos e analíticos, mas preferencialmente opta pelas informações divididas em drops, ou seja, cápsulas informativas que não contém tanto conteúdo, apenas o básico para nos manter a par do contexto.

Isso é positivo, por um lado, já que como todos estão à procura de conteúdos em doses menores, abre-se um espaço para que qualquer usuário também comece a produzir e publicar seus próprios drops, o que acaba retirando dos grandes centros de mídia o poder de concentração total das informações consumidas em uma determinada sociedade.

As redes sociais também impactam diretamente o modo como uma notícia é criada e, posteriormente, divulgada. Em um cenário onde muitos falam com muitos e milhares estão conectados, a notícia tem uma vida útil praticamente irrestrita. Uma vez publicada na web, a informação circulará por telas e dispositivos nos mais variados cantos do planeta e nos mais diferentes períodos temporais.

A notícia se torna mais “humana”

Interatividade pode até ser a palavra de ordem para muitos, mas o poder de compartilhamento é um argumento forte o suficiente para ser colocado como o grande pilar do jornalismo digital em tempos de redes sociais. A mudança na maneira que consumimos informação é impactada muito mais pelo modo de como a buscamos e compartilhamos do que necessariamente no modo como interagimos com ela.Antes mesmo de comentar uma notícia, o usuário está enviando-a para sua rede de contatos, buscando entre eles suas opiniões e visões. A interatividade, portanto, tem maior eficácia de abrangência e funcionalidade real entre os leitores, e não obrigatoriamente do leitor para com o jornal. Ele quer mobilizar e discutir tais conteúdos, e isso não inclui, necessariamente, ouvir a opinião do jornal – isso se essa opinião de fato existir.

Isso faz com que o jornalismo passe do conteúdo “institucional”, criado e mantido apenas por grandes corporações estruturas, porém insuficientes em número, para um bem compartilhado e produzido por muitos, sendo customizado e segmentado cada vez mais, variando e melhorando sua aplicabilidade conforme o avanço das tecnologias existentes. A notícia se torna mais “humana” e passa a fazer parte do dia-a-dia dos leitores de uma forma muito mais eficiente e real.

Texto no Observatório da Imprensa.