O maior desafio do jornalismo digital em relação às redes sociais não é, necessariamente, as redes sociais. O fenômeno do compartilhamento frenético de conteúdo fez com que o jornalismo se acusasse em certos pontos e momentos, porém avançasse em determinados contextos que talvez não necessitassem tanta preocupação. Vale a máxima de que distribuir o mesmo conteúdo em diversas plataformas não é estratégia; é preguiça.
Com a apropriação das redes sociais nas redações, o jornalismo se deparou muito mais com um problema de gestão do que de produção e adequação. A gestão, aqui, vai além de novos modelos de negócio. O grande desafio para o jornalismo é a gestão engessada de visão e comportamento que não se concilia com o atual momento vivido pela informação online. É como encaixar uma peça redonda em um buraco quadrado.
Perder o controle da informação, produzir um plano editorial individual para cada canal social e, ao mesmo tempo, ser capaz de integrar todos os meios, é um desafio de gestão, não apenas de produção. O jornalismo digital que quer usufruir das redes sociais precisa ter em mente que há curadores de conteúdo tão influentes quanto veículos “oficiais” oferecendo análises tão profundas ou furos tão extraordinários quanto qualquer mídia tradicional.
Pensamento crítico
E é exatamente esse aparente “conflito” gerado pelos novos “concorrentes” que faz o jornalismo se perder em alguns pontos. Não que o jornalismo digital não saiba utilizar as redes sociais, o problema é como ele quer utilizar. Muitas empresas querem chegar de terno e gravata nas redes sociais, sendo que o ambiente vigente é outro. O jornalismo quer adentrar a timeline dos usuários da mesma forma que o impresso às 7 da manhã chegava todos os dias na sua casa: sem diálogo.
Esse diálogo não deve se estabelecer em uma estrutura artificial de conversa, onde algumas menções e citações sejam consideradas um bate-papo de mão dupla com os usuários. O jornalismo de dados, por exemplo, vai muito além de destrinchar as informações através dos novos padrões de se produzir informação; vai direto ao ponto de reformular a gestão atual do jornalismo.
Era mais conveniente deter total controle sobre as direções em que as informações as jornalísticas trafegam. Era uma gestão onde se possuía o controle da produção, da publicidade e, principalmente, dos pensamentos críticos acerca do conteúdo oferecido e da própria empresa de comunicação. Com as redes sociais tudo isso é profundamente alterado, sofrendo um impacto que “prejudica” o modelo tradicional de gestão que até então era tido como único. É mais do que uma questão de ego; é uma pura questão de zona de conforto.
Texto no Observatório da Imprensa.