O que um livro sobre consumo colaborativo e novos modelos de ruptura acerca dos pensamentos e atitudes consumistas pode nos ensinar sobre jornalismo, mais especificamente sobre o jornalismo impresso? Nós queremos o jornalismo, não o jornal, não o formato, não o display. Nós queremos um conteúdo com qualidade, segmentado, customizável e que possamos compartilhar com quem quisermos.
O debate sobre como o jornalismo impresso vai sobreviver é tão ultrapassado quanto o próprio meio de comunicação em questão. É inegável que tal serviço contribuiu para uma sociedade mais desenvolvida, principalmente no ocidente. Porém também é inegável que o novo público consumidor de conteúdo já não só mais consome, mas produz e compartilha informação. E isso faz toda a diferença. Talvez falar tão afirmativamente sobre um novo público seja errôneo. São novos hábitos de consumo, diriam alguns especialistas. Novos hábitos demandam, obrigatoriamente, novas maneiras de se produzir e entregar uma informação. E isso o jornalismo impresso não faz e ainda se recusa a fazer. Preocupa-se demais em como gerar receita e manter seus modelos engessados de pé. Sem inovação, não há salvação.
Inovação essa que vai muito além do próprio jornalismo. Hoje jornalistas, blogueiros, engenheiros, programadores, designers, publicitários e mais uma infinidade de profissões andam lado a lado no jornalismo. Produzir jornalismo vai muito além de produzir um conteúdo em linguagem jornalística. Se esse produto informacional não é multimídia, plural e compartilhável, ele corre o risco de não imputar nenhuma reação na sociedade. E um jornalismo que não contribui para com a sociedade é um jornalismo que não serve para nada.
O medo de ser aniquilado
O que os extremistas do jornalismo precisam entender de uma vez por todas é que o digital não é inimigo do jornalismo. Não é só porque partimos da prensa para os bits e bytes que o jornalismo investigativo, analítico, reflexivo e com qualidade perdeu seu significado. Quem defende que só se é possível fazer “jornalismo de verdade” no impresso é porque não tem argumento. Mudou o formato e o jornalismo perde sua essência? Vamos lá, vocês conseguem pensar em algo mais construtivo.
O jornalismo migrou de vez nos atentados terroristas em 11 de setembro de 2001. Já são mais de 10 anos de especulações e projeções apocalípticas. Os que continuam procurando novas linguagens, como é o caso do New York Times e do Guardian, estão conseguindo manter o “público antigo” e cativar um “novo mercado”. Quem insiste em achar que sem o impresso o jornalismo não existe, está perdendo espaço e, principalmente, relevância.
Alguns jornalistas de grande renome blasfemam contra os formatos atuais do jornalismo. É muito fácil dizer que o jornalismo que é feito hoje é ruim, precário e pobre, já que o medo de serem aniquilados pelo digital é cada vez mais presente. Um jornalista que diz que o jornalismo atual é “horrível” e se recusa a entender o mundo no qual está inserido, com web semântica, WikiLeaks e holografias sendo termos cada vez mais comuns entre os novos comunicadores, não é um jornalista que deva ser levado a sério.
A era implacável
Quem deve mudar não é o jornalismo, mas os jornalistas. Não adiantaria em nada o impresso estipular novos formatos e modelos se sua massa primordial, os jornalistas, se recusa a acompanhar o mundo. Não há salvação sem inovação, mas não há inovação sem profissionais capacitados para explorarem esse mundo digital. Assim como o impresso será artigo cada vez mais escasso no mundo das comunicações, o jornalista que só sabe produzir conteúdo é um profissional fadado à extinção.
Isso é positivo? Claro que não. Imaginemos a contribuição ímpar que nossa sociedade teria se os grandes e mais renomados nomes da imprensa impressa se dispusessem a entender o mundo que os rodeia sem os preconceitos ou estereótipos presentes. Todos nós teríamos a ganhar com isso. Enquanto isso não acontece, tanto jornalistas como o meio impresso vão se tornando obsoletos. A era digital é implacável com quem não tem algo a dizer, mas é ainda mais ardilosa com quem se recusa a entendê-la.
Texto no Observatório da Imprensa.