O jornalismo impresso mundial está sob fortes impactos há tempos devido às intensas transformações a que está sendo obrigado a se submeter. O impresso brasileiro, por sua vez, prefere reinventar a roda ou, como no velho jargão, chorar o leite derramado. É a falsa sensação de agonia e a suposta projeção de euforia. Vamos ao detalhes.
O Jornal do Brasil, mas conhecido como JB, acabou. Pelo menos, a sua versão impressa de 119 anos. Já decretaram setembro, outubro e agora dezembro como sua data oficial de morte. Um dos mais antigos e tradicionais jornais pós-República não irá mais existir. Sua impressão será extinta, tendo espaço somente a versão online do periódico.
Muitos fingem que aplaudem, como os ambientalistas. Muitos fingem que choram, como os funcionários e jornalistas diretamente envolvidos com a empresa. Há, ainda, a turma do “eu já sabia”, grandes meios de comunicação que afirmaram que esse era o único caminho a ser seguido pelo JB, já que estava há muito tempo (15 anos) com sérios problemas financeiros. Não esqueçamos, também, da parcela dos “digitais”, aqueles que colocam a posição do JB como a única viável para tentar enfrentar as novas mídias e tecnologias existentes. Sorriem, pois querem exibir que o fim do impresso seria mais uma vitória da revolução dos meios de comunicação alternativos, da web e dos usuários.
Entretanto, por outro lado o jornalismo brasileiro projeta olhares não só de tristeza, mas de esperança. O Diário de S. Paulo inaugurou no domingo (25/7) sua nova versão impressa, totalmente reformulada, repensada e focada no “novo jeito de se fazer jornalismo impresso”. Com mais espaço para gráficos, fotos e cores, o Diário propõe um texto mais enxuto, claro, informativo e conciso. A ideia é a de apenas oferecer ao leitor um aprofundamento rápido, um guia simples para os acontecimentos mais importantes que ocorreram, já que se supõe que esse mesmo leitor provavelmente tenha lido algo sobre o assunto na internet.
Internet saiu mais uma vez na frente
A internet, aliás, continuará em grande expansão, com complementos feitos conforme a necessidade da reportagem, exigindo apenas um cadastro do usuário para que o mesmo envie fotos, vídeos e textos. O espaço para o internauta amplia-se, assim como um jornal pela primeira vez no Brasil pensando estritamente no público pré-web, pós-noticioso.
O que o Diário de S.Paulo está fazendo é exatamente o que o JB não tentou: inovar no próprio meio impresso. É de fundamental importância a aposta do JB no meio online, já que esse espaço tem tudo para dominar os meios de comunicação, porém algo deveria ser feito ainda no papel, ainda no impresso.
Na outra face da moeda, temos um jornal que repensa o óbvio, que quer reinventar a roda. O que o Diário fez foi transformar o jornal impresso em uma revista diária, com papel de baixa qualidade a um preço menor. Onde está o “novo jeito de se fazer jornalismo impresso”? Nem o que diz estar revolucionando nem aquele que quer fechar as portas possui razão. Mais uma vez a web e o jornalismo digital, assim como seus usuários e as mídias sociais ganharam uma nova batalha da guerra entre os meios tradicionais e os digitais. Quem fecha, declara a derrota, quem reinventa o óbvio, declara a falta de concisão e razoabilidade com que os meios impressos vivem diariamente. Nesse conflito de interesses, épocas e razões, a internet saiu mais uma vez na frente. Porém, o Diário deu um novo fôlego a ele mesmo; já o JB, preferiu tirar seu time de campo. É mais fácil fugir do que encarar desafios. Essa é a modernidade que o periódico preferiu ter.
Texto no Observatório da Imprensa.