Se o jornalismo está interessado em sobreviver, deve mirar um alvo apenas. É um alvo óbvio, mas difícil de ser notado por jornalistas míopes à era digital. Refiro-me ao leitor 2.0, internauta que está full time nas redes, juggler hiperativo que lê, assiste, se informa e se diverte. O problema é que esse leitor 2.0 ainda é tabu para os jornalistas de papel – profissionais educados na cartilha do século passado, quando repórter e leitor ocupavam papéis bem distintos e distantes.

A imprensa sempre serviu de mediação entre governo e cidadãos, políticos e eleitores, artistas e fãs. Mas e a mediação entre imprensa e leitor? Como era feita? Ao longo do século 20, ela ocorria em duas etapas da rotina produtiva da notícia. Primeiro, em um difuso processo de coleta de pautas, que podiam chegar à redação pelo telefone ou mesmo da rua. Segundo, após a publicação de uma matéria, chegava um feedback que podia ser incluído ou não na seção Cartas do Leitor.

Nos dois casos, o pessoal do jornal era o filtro. Cabia ao jornalista gatekeeper abrir os portões às pautas ou às cartas de leitores que valiam ser publicadas. O ombudsman se colocava na posição do público para avaliar se as notícias atendiam ao interesse e possíveis questões do leitor. Porém, dentro da redação, o ombudsman não era lá tão levado a sério. Aliás, o próprio leitor – 1.0 – era muitas vezes colocado para escanteio.

O tempo passa e as mudanças na tecnologia e na sociedade apontam novas formas de relação. Um leitor conectado a celular, internet e mídias sociais encontra um espaço de participação muito maior que outrora. Enfim, jornal e público estão integrados em uma mesma plataforma (a rede), num circuito horizontal que pode sepultar o modelo top-down consagrado pelos jornalistas de papel.

Hoje, o potencial da inclusão do leitor na produção de notícias é grande. Ele twitta, posta, cutuca, menciona, responde, critica, sugere. Em tempo real, tenta comunicar-se com os canais dos canais (!) jornalísticos no Twitter ou Facebook.

Jornalistas 2.0, alinhados com leitores 2.0, responderão a eles, serão pautados por eles, publicarão justamente o que está nas redes e é de interesse deles. Notícia que “vende” é aquela que o leitor busca, espera, fomenta. A ênfase nesse diálogo vislumbra resultado – comunicativo e comercial – muito mais positivo que qualquer redação 1.0 insistindo em fórmulas do século 20 no mundo digital.

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O leitor 2.0 e o futuro do jornalismo