A síndrome do jornalista Clark Kent
Todo futuro jornalista já se sentiu em algum momento da vida um discípulo de Clark Kent. Alguns, na verdade, ainda não superaram essa síndrome. Clark Kent, para quem não se recorda, é o pseudônimo usado pelo Superman, personagem muito famoso entre os fãs e os não tão fãs de quadrinhos, que trabalha durante o dia na redação do jornal O Planeta Diário (tradução literal de Daly Planet), e pela noite veste sua roupinha colada, com a cueca por cima da calça, para salvar o mundo. Agora a parada ficou complicada… Jornalismo, herói de quadrinhos, síndrome? Vamos por partes.
Todo jornalista já se sentiu – ou ainda se sente – na obrigação de salvar o mundo com as próprias mãos. Entre marretadas frenéticas cheias de inspiração em algum teclado sujo de café e quase enterrado entre papéis, prazos apertados e fontes esquivas como raposas, todo jornalista se sente um pouco na obrigação de salvar o mundo, em menor ou maior escala. É justamente aí que mora o perigo. Afinal, tal tarefa de salvar o mundo com a força das palavras não é para os fracos.

E como todo bom super-herói salvador da humanidade, o jornalista que sofre da síndrome de Clark Kent não pode aceitar ajuda de ninguém – e de nada. É preciso ser forte e contar apenas consigo mesmo. No imaginário popular, um herói é o cara que resolve o problema de todos sozinho, salva o dia e corre para os braços da mocinha. Você, colega jornalista, já parou para pensar em quantos colegas de profissão parecem sofrer dessa síndrome? Jornalistas financeiros e suas previsões “infuráveis”, especialistas em moda e suas tendências que são praticamente visualizações do futuro, e por aí vai.
Novamente, um detalhe faz toda a diferença: aqueles que sofrem dessa síndrome esquecem que o jornalismo não é uma religião imutável, dogmática, baseada em conceitos filosóficos, teológicos e metafísicos ditados pelos céus. O jornalismo é uma atividade como qualquer outra! Ele se adapta ao momento histórico, demográfico, hábitos culturais e mais uma série de fatores. Longe de mim querer defender a não necessidade do diploma (isso é assunto para outro texto), mas o fato é que somos formados pelo meio que habitamos – e também o influenciamos. O processo é uma via de mão dupla bem semelhante aquela coisinha que o jornalista deveria ter total afinidade: a comunicação.
Assessoria de comunicação, endomarketing motivacional, planejamento de comunicação estratégica, análise de redes sociais, gestão de imagem institucional, relações públicas, gestão e produção de conteúdo… Todas as áreas – e muitas outras – se comunicam em algum ponto, convergem para um ou mais objetivos. Resumindo, elas cooperam entre si – ou deveriam, pelo menos. Nenhum planejamento estratégico de comunicação chega a algum lugar sozinho, nenhuma grande estratégia para redes sociais dá certo sem apoio de outros tantos fatores externos. É justamente por isso que os super-heróis são “super”: eles fazem algo que os seres humanos não conseguem, que é alcançar o sucesso máximo na tarefa, sem a cooperação de ninguém.
“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente”. (Kierkegaard, Soren)
Se você quiser ler outras opiniões sobre esse complexo de Clark Kent, essa página wiki da USP tem um conteúdo bem interessante.
Por Igor Balbino, jornalista, planner e analista de redes sociais
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