No último dia de atividades da Campus Party Brasil diversos painéis com temas extremamente interessantes foram apresentados simultaneamente por diversos palcos no Anhembi. Na área de mídias sociais, um debate com Tiago Dória, Raquel Recuero, Rafael Sbarai, Jorge Rocha e Pedro Burgos sobre o futuro do jornalismo reforçou um pensamento que há tempos tenho teorizado: redes sociais dão o furo, mas o jornalismo é quem contextualiza.

Foi consenso geral que o poder de pautar a sociedade não é mais pertencente ao jornalismo. Com as redes sociais digitais conectadas em rede, insistir em dar um furo jornalístico pode comprometer o veículo, já que é praticamente impossível competir com centenas de milhões de pessoas publicando informações em tempo real e, principalmente, que estão, de fato, nos lugares onde os eventos ocorrem.

Entretanto o papel do jornalismo ainda se dá pela contextualização do fato e leva consigo a bagagem de órgão com credibilidade. A pesquisadora Raquel Recuero confirmou essa versão com uma pesquisa que havia feito, onde apesar dos fatos já terem sido disseminados nas redes sociais, os usuários agiam como se aguardassem a confirmação de algum jornalista ou grande veículo.

O painel foi bacana porque demonstrou, mais uma vez, a importância de um jornalismo bem feito como principal ferramenta para combater o ceticismo dos gurus apocalípticos, já que em uma era onde todos são produtores de conteúdo, alguém tem que lidar com a contextualização desse material. É claro que temas como modelos de negócios, conteúdo pago versus conteúdo grátis ou a inserção do multimídia no jornalismo também foram destacados.

Outro ponto interessante debatido foi acerca da posição dos novos jornalistas frente ao mercado de trabalho. É realmente necessário que um jornalista saiba programação, empreendedorismo e tenha noção de gestão? De certa forma, sim. Toda a teorização da profissão de jornalista é essencial na formação de novos profissionais, mas é de suma importância estar atento às mudanças que os novos padrões de consumo informacional exigem.

Foi colocada em questão a necessidade de expor um diferencial perante o público, pauta que até se assemelha, de certa forma, com o que foi dito sobre blogs em outro painel. Na outra ocasião foi dito que os blogs precisam possuir algo além da notícia em si e isso vale e muito para o jornalismo atual. Se as redes sociais dão o furo, cabe ao jornalismo subsidiar o leitor com conteúdo de qualidade, análises profundas e posições não necessariamente parciais sobre alguns temas.

Alias, parcialidade foi um dos itens mais desmistificados no debate. A teoria que temos no início da faculdade cai por terra em um momento onde os leitores estão procurando por conteúdos que se assemelhem com suas visões ou que as confrontem. Um usuário entra em determinado blog ou site jornalístico para ter uma visão que vai de encontro com a sua ou, no melhor dos casos, um confronto intelectual direto.