Traçar um cenário com um nível de previsão satisfatório e isento de erros quando o assunto abordado é o universo digital online é praticamente impossível. A internet é um ecossistema complexo e altamente impactado pelo comportamento e desejos humanos. Não há como definir com exatidão o que o digital irá imputar no futuro, mas é possível realizar alguns levantamentos do que ocorre hoje.

A internet, como um todo, já obrigou o jornalismo a rever muitos de seus conceitos básicos. O fato de unir em uma mesma plataforma todos os formatos existentes de meios de comunicação tradicionais existentes, resultando em uma mídia totalmente nova, a web, já seria o suficiente para bons debates e reflexões. Entretanto, o digital foi além da unificação dos meios. Ele possibilitou o “barateamento” da produção de informação. Nunca produzir conteúdo foi tão fácil, rápido e, principalmente, acessível para uma massa que até então só agia como receptora. Aliás, esse é outro fator que se desenvolveu na internet, que democratizou os produtores e praticamente extinguiu a linha de produção informacional no estilo fordismo com o qual o jornalismo trabalhava livremente.

A interação é essencial

Com o advento em massa e em escala global das mídias sociais, tais fatores foram maximizados e acelerados. O universo com qual o jornalismo estava apto a exercer sua função foi sucumbido, dando espaço para que usuários comuns também trabalhassem – e publicassem – suas opiniões. Até mesmo o tradicional agenda setting, onde a imprensa pautava a sociedade, sofre profundas mudanças e começa a ser obrigado a ouvir as impressões dos leitores. Com isso, é possível afirmar que a internet mudou, de maneira sem precedentes, o modo de se fazer jornalismo. Porém, é na mídia social que uma das maiores mudanças se consagra. A distribuição da informação ganha novos patamares, sendo capaz de atingir, ao mesmo tempo, massas colossais e impactar públicos segmentados de forma customizada.

Se unirmos a facilidade na produção de notícias que a web 2.0 trouxe com a capacidade quase infinita na distribuição de conteúdo, o jornalismo ganha novos e importantes papéis. O rápido compartilhamento de conteúdo obriga a imprensa a caminhar a passos largos, pois com farta abundância de fontes, os meios de comunicação devem entregar, de maneira quase que instantânea, uma informação segmentada, customizada e que contenha canais livres para um diálogo. Nunca o feedback foi tão real.

Sim, diálogo. As mídias sociais querem conversar com o jornalismo. Mesmo com alguns estudos apontando que mais de 90% do que circula na mídia social provém da mídia tradicional, o jornalismo deve estabelecer maneiras de interagir com esse público. E se não gostarem da informação? E se os leitores possuírem um conteúdo que contradiz tudo o que foi relatado na reportagem? Seja comentando conteúdo próprio ou já publicado, é importante que os meios de comunicação estejam cientes que uma interação é essencial.

Impactos estão em curso

Porém, essa interação vai muito além de publicar perguntas nas mídias sociais. Como os leitores podem, de fato, participar do dia-a-dia da redação? Estabelecer e por em prática ações que possibilitem o público ser participativo só tendem a contribuir para ambos os lados. Ganha quem palpita, ganha quem escuta. É notório que são dezenas de pontos a serem trabalhados pelo jornalismo, mas quanto mais tardar, maior será o grau de negatividade nos impactos causados pela não aceitação das mídias sociais.

Essa não aceitação deixa claro como é peculiar o impacto sofrido no jornalismo causado pelas mídias sociais. Em todas as mídias a imprensa pode impor de maneira agressiva seu conteúdo. Com a plataforma internet, usando a web como mídia, as redes sociais demonstraram que esse modelo não seria capaz de continuar satisfatoriamente, seja para o jornalismo ou para o público. Os impactos das mídias sociais no jornalismo são reais e já estão em curso.

Texto no Observatório da Imprensa.