Estamos vivendo, nos últimos anos, mudanças radicais em muitos paradigmas quando o assunto é o futuro da mídia e, em especial, os rumos que o jornalismo impresso vem tomando. Há mudanças nos paradigmas, mas qual é o paradigma da mudança? Carlos Nepomuceno, um dos principais pensadores brasileiros sobre a era 2.0, lançou uma visão muito interessante sobre a internet e seus derivativos. Segundo Nepomuceno, a internet não é uma mídia, mas sim, uma plataforma cognitiva na qual as mídias digitais rodam.  

Se analisarmos mais de perto é a mais pura verdade. Ele coloca que a mídia é uma variante em cima de uma plataforma específica. Nesse caso, estamos migrando da era analógica (plataforma analógica) para a digital (plataforma digital), e em cima desse novo contexto temos a internet como uma plataforma, e não uma mídia.  

Rádio, TV e o jornal impresso são mídias que rodavam em plataformas orais ou escritas, por exemplo. Na web, temos todas essas mídias em um emaranhado séquito comunicacional onde muitas vezes uma acaba sobressaindo sobre a outra, o que geraria a confusão de se confundir internet como uma mídia, igualando-a ao rádio ou à TV.  

O impresso precisa do contato humano  

Com isso, se olharmos sobre esse prisma, vemos mudanças mais na forma de consumo do que em sua essência fundamental, pelo menos na maioria das mídias da plataforma analógica. O rádio, por exemplo, sai do analógico e vai para o digital muito mais potente, abrangente e customizado, já que com o sistema de tags é possível selecionar um assunto ou um estilo musical e captar tudo o que está relacionado a isso em um determinado espaço de triangulação geográfica, através de sistemas simples de GPS. Ou seja, enquanto você viaja por uma estrada, sua rádio digital segmentada vai agregando o que as estações por onde você está passando estão transmitindo naquele exato momento, formando uma lista com o que está disponível naquele determinado espaço de acordo com o que você selecionou. Muda o consumo, não necessariamente a mídia em si.

Na mesma linha, o ano de 2010 bateu todos os recordes no quesito visualização de vídeos. Nunca se assistiu e produziu tanto material audiovisual, seja na forma profissional ou amadora. Foi demonstrado, mais do que nunca, que o usuário de internet (nesse caso, o antigo telespectador) ainda gosta e muito de assistir vídeo. Mais uma vez, muda a maneira do consumo, e não a mídia.  

Porém essas duas plataformas não perderam o charme que continham. O jornalismo impresso, por sua vez, não é tocado, sentido ou manuseado no mundo digital. O impresso precisa disso. Esse é seu charme. Ao contrário de outras mídias onde só era necessário o consumo simples, direto e passivo, o impresso detinha em seu conteúdo informação e estrutura física. O impresso precisa do contato humano para existir.  

Queremos informação ou glamour?  

O que ocorre com a web é essa perda de essência. Rádio e TV continuam exigindo apenas o consumo, mas o impresso perde sua principal característica. Blake Eskin, editor de web da conceituada publicação New Yorker, afirmou que o jornalismo impresso está perdendo seu charme. A web, segundo Blake, exige dinamismo e objetividade, o que acaba comprometendo um trabalho mais apurado e detalhado, como era possível em uma impressão de papel.  

Não que as outras mídias não tenham sofrido modificações em sua estrutura. O vídeo, por exemplo, é produzido, alterado e compartilhado o tempo todo pelos usuários, assim como a rádio e seus podcasts. O que é cerne desse texto é o impacto que a plataforma digital está imputando em uma determinada maneira de se enxergar uma mídia.  

Enfim, estamos querendo consumir informação ou glamour? Rádio e TV não perderam seus respectivos charmes, mesmo com uma mudança de plataformas, por isso ninguém os questiona. O impresso, por sua vez, perde toda a sua atração, sua ligação quase íntima com o leitor. Estaríamos traindo o jornalismo impresso?  

Texto no Observatório da Imprensa.

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