Os recentes anúncios de importantes jornais lançando aplicativos para a rede social de Mark Zuckerberg, o Facebook, revelam muito mais do que simples estratégias de negócios para empresas de comunicação. O jornalismo está procurando alinhamentos cada vez mais funcionais com as novas mídias, principalmente aquelas conectadas à web e que proporcionam aos internautas poderes de leitura, compartilhamento e edição simultaneamente, uma vez que o tempo gasto em sites de relacionamentos cresce freneticamente em todo o planeta.

Wall Street Journal, TheGuardian e Independent são mostras de grandes centros jornalísticos que estão enxergando o incrível potencial dessas ferramentas sociais digitais conectadas em rede. Além do tráfego originado no Facebook e direcionado para grandes portais, a rede de Zuckerberg deixa bem claro que mira no objetivo de se tornar uma central de mídia social nunca vista antes. As parcerias com empresas de música e vídeo online expõem o que o Facebook pretende para um futuro próximo, sem contar as conexões com os jornais.

São mais de 33 empresas jornalísticas firmando parceira com a rede. O potencial em transformar o Facebook em uma nova forma de se consumir notícias está cada vez mais evidente e plausível. Não há nada mais coerente do que investir e introduzir conteúdo em um local onde as pessoas estão “reunidas e conversando”. A possibilidade de a rede ser integrada facilmente com outras ferramentas sociais ou sites faz com que tal plataforma seja ideal para a discussão e o consumo de informações.

Renovação na forma de gerar receita

A ideia central não é apenas acessar as notícias dentro do Facebook ou conectado com a rede, mas sim, verificar o que seus amigos estão consumindo, mostrar o que você está lendo e, desse modo, compartilhar experiências no que tange à aquisição de informações. Experiências estas que não se limitarão na publicação de um link ou no like dado em uma notícia. Todo um processo de personalização de conteúdo será formalizado tendo como base suas preferências e a influência que seus amigos exercem sobre seu dia-a-dia na rede. E isso em tempo real.

Esses aplicativos obviamente não são estruturados em uma via de mão única. Ganham os jornais com experiências mais sociais, integração de um conteúdo massificado para massas personalizadas (o que é positivo para a imagem das empresas jornalísticas), além do fato da publicidade gerada dentro do aplicativo pertencer aos jornais (o Facebook vende os anúncios fora dele), e ganha o Facebook, pois começa a se consolidar como uma “internet dentro da internet”, trazendo o usuário para dentro da rede e mantendo-o ali.

Ademais, toda essa integração pode dar novos horizontes aos mercados jornalístico, cinematográfico e fonográfico. Em um mundo onde explode o consumo de músicas e vídeos, suas empresas responsáveis lidam com perdas consideráveis. Em um mundo onde todos querem produzir e compartilhar conteúdo, os jornais temem pela queda no número de vendas nas bancas e pela desesperadora renovação na forma de gerar receita. Seria o Facebook a salvação para todas essas mídias?

Transformar os jornais em “sociais”

Talvez a prepotência do Facebook em se firmar como um ecossistema autossustentável venha da premissa de que, por exemplo, americanos gastam 23% do tempo online com redes sociais e apenas 3% em sites de notícias. Ao mesmo tempo em que a rede faz parcerias para se manter ativa e mais onipresente possível no mundo online, ainda leva créditos por ser inovadora e trazer diversas aplicações para dentro de sua estrutura. O que o Facebook faz nada mais é do que dar continuidade ao seu incrível processo de crescimento. O que os jornais fazem nada mais é do que modificar suas ações para continuarem indispensáveis para a sociedade, mesmo ela sendo digital.

Outro fator importante que deve ser observado é que todas essas movimentações revelam que o jornalismo participativo, aquele criado e mantido pelos usuários, é de suma importância, mas não irá substituir o jornalismo profissional. Prova disso é que os usuários usam as redes sociais para produzirem conteúdo e as próprias redes sociais estão investindo em parcerias para trazer os jornais e transformá-los em “sociais”. Isso deixa claro que toda essa gama midiática digital não é, nunca foi e não tem a pretensão de ser repelente em suas ramificações, sendo complementar e, para a nossa sorte, cada vez mais “invisível” no dia-a-dia.

Texto no Observatório da Imprensa.