As discussões acerca desse tema parecem ser incessantes e cada vez mais ardilosas. As preocupações exacerbadas quanto à continuidade do jornal impresso são tão descabidas atualmente quanto 15 anos atrás. E se o jornalismo impresso acabar? A questão fundamental deve ser trabalhada sob outra ótica: enquanto o número de jornais em circulação diminui a cada mês, o impresso ainda é a mídia com maior alcance planetário.

O que isso pode nos ensinar? O jornalismo impresso ainda tem um papel importantíssimo para ser exercido. Porém quando sua circulação chegar a um nível tão baixo que não compense mais sua impressão, o mundo não irá parar para lamentar seu fim. O jornalismo continuará sendo trabalhado na web, seja através de vídeo, texto, áudio, infográfico ou com a participação dos usuários. Há ainda o jornalismo à base de dados e com conteúdo acessível para todos.

Prova disso é o WikiLeaks. O portal não ganharia tanta notoriedade se não fossem os jornais. De nada adiantariam centenas de milhares de documentos confidenciais se não houvesse os jornais para trabalharem de maneira contextual e compilatória com essas informações. Alguém precisa filtrar e organizar esse conteúdo, seja usando apenas os jornalistas da redação ou abrindo os arquivos para que qualquer cidadão ajude nessa apuração.

Aliás, abertura essa que já podia ser refletida com a participação dos leitores desde o open news, do britânico The Guardian, onde o jornal coloca em uma lista suas pautas a serem trabalhadas. Os leitores podem comentar e ajudar na condução da linha editorial das reportagens. É claro que as matérias mais interessante e exclusivas serão trabalhadas apenas internamente, o que nos leva a uma segunda prova da morte do papel, não do jornalismo: matérias exclusivas e furos ainda são a essência do bom jornalismo, principalmente na internet.

Que venham os bits de conteúdo jornalístico

Quer uma terceira prova? O jornalismo começa a construir uma amizade mais profunda com a internet. Alguns jornais já estão adotando a linguagem HTML 5 em suas páginas, outros estão reformulando seus portais e se transformando em locais mais “amigáveis” visualmente quanto ao conteúdo e seu posicionamento, levando em conta a user experience, além do fato de que alguns jornais estão criando aplicativos para redes sociais, como oFacebook, em uma tentativa clara de ir até o leitor, em vez de o leitor ir até o jornal. É o jornalismo cada vez mais customizado e compartilhado ao mesmo tempo.

Os pontos que provam que o jornalismo tem terra fértil na internet são inúmeros, porém alguns fatores merecem um destaque ainda maior. Em uma era com informações abundantes e conteúdo compilado em 140 caracteres, o jornalismo investigativo, literário e com profundidade demonstra que tem ganhado cada vez mais espaço em meio aos bits. Em um momento em que todos falam e poucos escutam, ter contexto é fundamental para se fazer a diferença.

Assim como o tema sobre morte do jornal de papel é batido e teima em não ser encerrado, incessantes também são os exemplos que, mesmo batidos, exemplificam de maneira singular essa questão. O rádio está criando novos parâmetros e demonstra uma chance ímpar de atuação com a internet e os sistemas de tagueamento universal. A televisão digital interativa já é realidade em muitos países e tem ganhado cada vez mais força e funcionalidades. Por qual motivo com o jornalismo seria diferente? No lugar de lamentações, deveríamos pensar na próxima geração do jornalismo. O jornalismo impresso vai acabar? Ainda bem. Que venham os bits recheados de conteúdo jornalístico.

Texto no Observatório da Imprensa.