Alguns grandes portais jornalísticos na internet já demonstram um maior interesse profissional e estratégico pelas redes sociais, porém isso ainda é algo raro de se ver. Quando trazemos o tema redes sociais e jornalismo para o palco central não se deve discutir, necessariamente, somente o uso dessas ferramentas como modo de divulgação e ação, mas sim o de atuação em uma verdadeira tática de comportamento por parte dos meios de comunicação.
Sites como o da revista Veja, por exemplo, já chegou a ver no Twitter uma das 3 fontes principais de tráfego. O portal do jornal O Estado de S. Paulo já chegou a ter mais acesso nos blogs do que no site propriamente dito. Contudo esses ainda são exemplos ferramentais, técnicos, maneiras empregadas através das redes sociais digitais conectadas para que mais visitas e leitores sejam agregados pelas páginas jornalísticas. A questão é discutir uma atuação comportamental dentro desses meios.
Diversos levantamentos já apontaram nesses últimos anos que a maioria absoluta dos assuntos que é corrente nas redes sociais tem como origem a mídia tradicional, ou seja, as redes sociais discutem o que sai na imprensa comum. Só com isso em mente já poderíamos destacar um novo modo de acesso, produção, compartilhamento e discussão acerca das reportagens e matérias jornalísticas.
Porém ainda não se debate a atuação desses meios jornalísticos nessas redes. Há um perfil oficial que, além de abarrotar seguidores com links e informações em 140 caracteres, discute e conversa com os leitores? Há alguma equipe específica e treinada empregada na manutenção de um diálogo? Existe um setor que estude maneiras de se levantar discussões nas redes sociais com o intuito não apenas de angarias visitas, mas o de fazer os usuários participarem de debates e fóruns dentro dos portais jornalísticos?
Os meios de comunicação jornalísticos ainda insistem na confusão de que rede social é estratégia, quando na verdade são apenas ferramentas. Estratégia é o que você realmente faz com elas, os usos inteligentes onde as emprega e como tais mecanismos podem auxiliá-lo na criação de uma espécie de “gestor informacional jornalístico” dentro das redes sociais, criando pontos de interesse onde atraiam os leitores e usuários para um diálogo e, posteriormente, para o ambiente jornalístico da empresa, ou seja, o portal do veículo.
Um jornalismo digital que diz usar os benefícios das redes sociais, mas que ainda foca a cobrança de conteúdo online, utiliza táticas não recomendadas para ganhar visitas ou, ainda, que discute se um jornalista com mais clicks deve ser mais bem remunerado do que um profissional com menos clicks não é um jornalismo digital que realmente usa os benefícios das redes sociais em proveito próprio.
Deve-se ter cautela quanto a esses usos e empregos nas redações jornalísticas, mas o jornalismo online deve se pautar por aquilo que sempre se pautou quando era analógico: ser um mediador de conteúdo para com a sociedade. O que muda é apenas a praça onde essa atuação deve ser feita. Se antes o jornalismo mantinha esse comportamento na televisão ou no impresso, agora ele deve migrar para as redes sociais, pois é nesse lugar em que as pessoas estão discutindo o que sai na imprensa. Para um diálogo válido, o jornalismo precisa participar desses debates, já que é um dos principais atores.
Texto no Observatório da Imprensa.