O jornalismo tem se debruçado cada vez mais no universo dos dados. Assim como muitos outros setores da sociedade, tal como a medicina, educação ou o direito, o jornalismo também tem sido impactado cada vez pelo fenômeno do Big Data, aquela avalanche descomunal de dados que você não consegue processar ou analisar utilizando ferramentas tradicionais, pois o volume de informações que podem ser obtidas é tão grande que é preciso um passo além para tirar um real proveito desse acontecimento.

Inserido nesse cenário temos a dadificação, ou seja, a transformação, em dados, de diversos aspectos da sociedade, sejam eles dos mais variados e inusitados setores, ramos, contextos e propósitos, neste último, principalmente, abraçando as divergências de posicionamento acerca do uso ético desses dados e sobretudo a falta de transparência no modo como são obtidos, resultando em manipulações poderosas e/ou perigosas.

E aqui retornamos com o jornalismo. Ao dadificar diferentes cenários, temos em mãos, circulando socialmente entre a gente, uma quantidade colossal de dados que são, muitas vezes, balizares em nossa argumentação diária, especialmente quando extraídos do jornalismo. Exemplo disso é o momento pelo qual estamos passando, onde a pandemia em escala global causada pelo vírus SARS-COV (que gera a doença COVID-19) é, em suma, argumentada em cima de dados. A própria doença é um dado e o dado é a doença.

Mortes, contaminados, não contaminados, recuperados, escala crescente, logarítmica, projeção, vacinação, isolamento social, vertical, distanciamento, impactos na economia. O coronavírus é, por si só, dado. A sociedade, hoje, está discutindo dados o tempo todo, o dia todo. Praticamente todos os cenários, contra ou a favor quanto às formas que governantes e especialistas estão lidando com o assunto, são argumentados com dados. E muitos não percebem, mas a forma com que os dados estão circulando socialmente entre nós, sobretudo oriundos do jornalismo, tem feito com que discutamos dados “na sala de estar”.

Talvez o momento atual seja uma das vezes em que nossa sociedade mais se deparou com dados e suas visualizações, seja na TV, jornais impressos e principalmente na internet. As atualizações, muitas vezes em tempo real, têm trazido ao núcleo familiar uma aproximação com o universo dos dados, da estatística, dos gráficos e das escalas de uma maneira tão presente, tão “tangível”, que tem projetado para o jornalismo uma responsabilidade ainda maior. As pessoas não só o usam para balizar seus argumentos como usam e questionam seus dados com outros tantos dados, projeções e visualizações.

O cenário atual é ímpar sob diversos aspectos políticos, sanitários, econômicos, científicos e acadêmicos. E o jornalismo tem se configurado como um dos principais protagonistas na busca, coleta, seleção, análise e registro desses dados que serão, ainda, utilizados como argumentação retórica pela sociedade, pois a era atual não condiz mais com o pensamento de mero armazenamento, mas na compreensão e no entendimento dos dados. A forma como os sujeitos estão inscritos pelos dados em meio ao “caos” da dadificação conduzirá a forma como esses sujeitos estarão inseridos quanto às experiências humanas na era do Big Data. E o jornalismo pode ser quem puxa a fila.

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