A internet está recheada de mitos, falácias e mentiras. Cada um com sua significação própria, em um contexto próprio e único. Com a web 2.0, essas oposições às verdades se multiplicaram consideravelmente, e como dizem, uma mentira dita 1000 vezes torna-se uma verdade. Isso é verdade? Não, é outra mentira!

O mundo empresarial também está inundado com esses acontecimentos mágicos e fantásticos que complementam páginas e mais páginas da web. É preciso estar atento, pois que nem tudo que está na moda é necessariamente bom. E nem tudo que é bom é necessariamente verdade.

Um dos passos primordiais para saber diferenciar verdades, lendas e possíveis verdades é saber que nem tudo no digimundo empresarial mudou. A relação cliente e empresa, por exemplo, sofreu drásticas mudanças. Vemos que o respeito e a consideração que as corporações possuem em relação aos consumidores era algo impraticável 50 anos atrás.

Entretanto, até hoje as empresas existem para gerar lucros para os acionistas e investidores, construir contas bancárias gordas e vender deploravelmente. Houve mudanças nas relações com a sociedade e com o meio ambiente? Sim, houve mudanças. Mas toda empresa ainda tem por sua função básica o lucro. Logo abaixo, listei 3 pontos básicos ditos sem o mínimo de controle na web 2.0. Todas são lendas!

1. Toda empresa é 100% transparente

Mentira! Talvez seja uma das mais clássicas lendas empresariais que já inventaram. Se antes toda informação era tratada como segredo de estado e negada ao público, hoje, a comunicação corporação x cliente é uma via expressa de mão dupla, altamente carregada e movimentada.

Até mesmo no Brasil, em plena era JK, muitas empresas negavam expor suas informações para seus consumidores, por mais simples que fossem. O que ocorreu foi que, com essa negação os clientes passaram a buscar novas fontes e começaram a criar suas próprias teorias, fazendo com que muitas notícias formuladas por eles prejudicassem as empresas.

Com isso, as empresas mudaram de comportamento e passaram a adotar em suas agendas a construção da sociedade em volta da corporação, assim como a preservação do meio ambiente, as relações empresa x funcionários, a formulação de programas voltados para a cidadania, educação e consciência ética.

Informação hoje é poder, principalmente no digimundo empresarial. Afirmar que as empresas são 100% transparentes é um erro drástico, pois nenhuma corporação pode expor publicamente suas estratégias de mercado. Suas informações financeiras, de investimentos e de ações em comunicação devem ser mantidas sob o mais absoluto sigilo. Nenhuma empresa está disposta a entregar como fórmula seus planos comunicacionais digitais, pelo menos não em sua totalidade. Isso seria suicídio corporativo.

2. Na web tudo é de graça

O que mais se fala é que a internet é ilimitada, uma fonte inesgotável de recursos e de conhecimento. Verdades à parte, fala-se também que a web 2.0, e juntamente com suas mídias sociais, são ferramentas ao alcance de todas as empresas, pequenas, médias ou grandes, pois possuem acesso fácil e são gratuitas. Mentira!

Alguém paga a conta para que nós possamos desfrutar de todos esses recursos. Já imaginou o quanto de tráfego que o YouTube deve comer por dia? Já imaginou a quantidade de informações que os servidores do Twitter processam por segundo? Já ousou pensar no monumental volume de dados que o Instagram precisa guardar? A internet não é de graça, o tráfego não é de graça e, principalmente, toda empresa que tiver um mínimo de sucesso terá de pagar muito por banda.

Ultrapasse, por menor que seja o volume, seu limite de banda. As multas que cairão serão enormes, dignas de empresas grandes. Achar que todas as ferramentas são gratuitas e ilimitadas é um pensamento medíocre e demonstra falta de conhecimento estratégico digital.

3. A empresa sempre conversará com seus clientes

Qual a quantidade de usuários que o UOL, a Globo ou o Estadão possuem? Crer realmente que essas empresas irão sentar e dialogar “face a face” com você, através das mídias sociais, é pura ideologia. Não há como manter profissionais, tanto em quantidade como qualidade, para atender a todos os membros, leitores, telespectadores e ouvintes que muitas empresas possuem.

A empresa não respondeu nominalmente seu e-mail e por isso você irá abrir uma comunidade para atacá-la? Meu caro, faça o contrário: elabore uma proposta de como tal empresa pode atender a todos os seus requisitos e envie para a mesma. Se for funcional, com certeza você irá até ser chamado para trabalhar lá.

Há uma diferença entre diálogo e conversação. Moderação de comentários e fóruns, então, nem se fala. Como gosto de mencionar, em uma reportagem, por exemplo, até o terceiro comentário os leitores estão discutindo acerca do assunto proposto no texto. A partir do quarto comentário, os usuários já se esqueceram da matéria e começaram a discutir os recados uns dos outros. Gerenciar toda essa demanda e ainda “conversar” com cada cliente em particular é algo impraticável, não humano e impossível de se fazer, mesmo na web 2.0.

Agora, me diga: transparência, conversa e gratuidade onde, cara pálida?

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Mídias sociais nas empresas: conversa e transparência onde, cara pálida?