Os jornalistas estão com muito medo. Os jornalistas estão apavorados. Os jornalistas, sobretudo os mais tradicionais e antigos, estão apavorados justamente com aquilo pelo que passaram a vida toda lutando e disseram servir: a liberdade absoluta de informação e de imprensa. Os jornalistas estão, em suma, com medo da internet e de todas as suas espinhosas mudanças.  

Se, por um lado da moeda, os profissionais da imprensa estão tratando toda e qualquer discussão sobre a regulamentação da mídia como um censura monstruosa e ditatorial, muitos desses mesmos profissionais estão incomodados com a total desregulamentação da mídia, acusando a rede mundial de computadores de ser a grande causadora dos problemas atuais enfrentados pelo jornalismo, entre eles o plágio e a cópia sem autorização.  

A imprensa atual está em conflito existencial e, principalmente, está em batalha contra o mundo digital. Após dezenas de maneiras de se cobrar por um conteúdo online, os grandes meios de comunicação que migraram para o universo dos bits ainda não encontraram uma fórmula mágica que alinhe o bom conteúdo informativo produzido por seus profissionais aos sistemas de cobrança. Se é que eles realmente precisem existir. Ao bloquear um conteúdo online, o veículo demonstra que não encontrou nenhuma saída viável e minimamente concisa para expor suas informações na rede. O acesso restrito à maioria de suas áreas vai em direção oposta ao que o jornalismo – e, por consequência, os grandes veículos – sempre demonstrou pavor: o cerceamento da informação.  

Em busca de novas saídas  

Talvez os manifestos tenham sido somente teóricos e por isso os grandes nomes da imprensa estejam amedrontados com o que o digital está proporcionando aos internautas, já que a possibilidade de se multiplicar um conteúdo de forma instantânea, gratuita e praticamente infinita é tão grande que não seria incorreto afirmar que na internet a informação é tão livre que nem mesmo um modelo de cobrança irá interromper essa disseminação. Aliás, principalmente um modelo de cobrança.  

A internet, munida de suas redes sociais, demonstrou, mais uma vez, que tem sede por conteúdo informativo de qualidade e é adepta a um mundo sem barreiras. O que demonstra isso é a mais recente investida do New York Times, que recém lançou seu modelo de cobranças e uma conta no Twitter já disponibilizava links que burlavam o mecanismo de cobrança e liberavam o conteúdo de forma gratuita. Além de tudo, esse caso demonstra como os tempos realmente são outros. Dificilmente alguém iria imaginar que algo tão simples pudesse perturbar um dos maiores jornais do mundo. Na era 2.0 das informações jornalísticas, uma simples conta na rede social de microblogs faz com que o Times se revire todo e procure novas saídas para cada problema.  

Pavor irracional e incondicional  

O que falta ao jornais é começar a agir de maneira que não vá de encontro ao que os novos consumidores de informação querem, como restringir o acesso aos principais conteúdos. Os jornais e seus jornalistas mais tradicionais precisam demonstrar ao público nativo digital formas conciliadoras de se consumir uma notícia. Bloquear pura e simplesmente o acesso às informações apenas demonstra pânico e pavor perante o mundo digital.  

Não é por acaso que o fenômeno dos blogs cresce e angaria mais público com o passar do tempo. Os blogs são mídias informais, usam uma linguagem mais apropriada aos diferentes públicos e trabalham com nichos específicos, além de conquistarem parte do mercado oferecendo conteúdo de qualidade e de forma gratuita, sem qualquer intervenção burocrática. Com isso, ou os grandes veículos começam a tratar os usuários da forma que querem ser tratados, ou esse pavor irracional e incondicional para com a internet criará uma geração de leitores acostumada a acessar conteúdo de fontes cada vez mais diversas e distantes dos portais e jornais – o que já acontece muito. Além disso, irão oferecer aos leitores mais criativos a chance de criarem maneiras de burlar os sistemas pagos, sem respeito ou consideração pelo veículo. É esperar para ver.  

Texto no Observatório da Imprensa.