A poucos meses das eleições presidenciáveis ‘mais digitais’ do Brasil, tanto a imprensa comum como os usuários da web 2.0 estão se pautando exclusiva e exaustivamente com um único assunto: a obamização das ações eleitorais.

Há, como gosto de definir, uma forçada ‘mídia-socialização’ das mídias sociais no país, termo que fui obrigado a criar para caracterizar melhor tais acontecimentos. O neologismo empregado remete ao próprio conceito de obamização, o qual seria fazer aqui o que os assessores fizeram com Barack Obama lá, nos EUA.

O que eles fizeram com o presidente americano? Tornaram todas as vias digitais, principalmente as ferramentas de mídias sociais e redes sociais, em canais de ampla divulgação e recebimento de contribuições financeiras. Tal acontecimento se deve por dois fatores distintos e fundamentais e que grande parte da imprensa não analisou profundamente.

O primeiro ponto é que a atual eleição americana foi recheada com paralelos da web 2.0 simplesmente porque essas tecnologias não estavam disponíveis nos outros períodos eleitorais. Aliás, algumas até estavam, mas com conhecimentos limitados ou com divulgações pífias.

‘Fique como está’

Se algo não existia ou não era de conhecimento público, não há como você usar. Se algo é de domínio dos internautas e eleitores (ainda mais os americanos, onde 17% dos jovens são viciados em consumir mídia), você tem a possibilidade de aplicar tudo que está ao seu alcance.

O segundo fato determinante se deve ao novo, ao inusitado. Obama era desconhecido e não possuía uma trajetória política amplamente exibicionista. Anunciar um presidente novo e negro requer, por parte dos assessores, muitos meses de enorme dor de cabeça.

O que fazer, então? Usar tudo que é novo, disponível e que atinja, principalmente, o público que mais facilmente adere novidades e mudanças: os jovens. Como atingir os jovens? A resposta é óbvia: através das mídias sociais.

No Brasil, a ‘mídia-socialização’ das mídias sociais é forçada por alguns pontos também distintos. Os presidentes são conhecidos em todo o território nacional, pelo menos os dois principais, como Serra e Dilma. O atual governante do país possui uma aprovação totalmente desproporcional ao que acontecia com Bush, nos EUA. As mudanças, lá, eram clamadas. Aqui, o ‘fique como está’ ganha forças através do apreço para com Lula.

Pergunta e resposta instantâneas

Aliás, devemos analisar que todo o contexto geográfico, sociológico, social e midiático entre os dois países fornece dados preciosos para um pensamento mais sólido em relação ao impacto das mídias sociais nas eleições deste ano no Brasil.

Nos EUA, o consumo de internet é alto e diferente do nosso. Apesar dos brasileiros se orgulharem de estarem nas posições mais altas em termos de tempo de navegação, é imprescindível que lembremos que mais de 95% dos lares possuem TV, o que significa um impacto gerado pela TV aberta que não existe em quase nenhum outro país do planeta.

Tem-se falado muito em web 2.0 e quais os impactos que as mídias sociais causarão em nossas eleições. Muitos canais, como o Twitter, por exemplo, servirão de meios para que muitos candidatos desconhecidos e sem tempo de exibição proclamem suas idéias. Mas antes de tentarmos responder quais serão os efeitos da ‘mídia-socialização’, devemos acompanhar qual será o papel da imprensa tradicional na apuração, cobertura e influência nas ações eleitorais, o que está intimamente ligado a analisarmos qual o impacto que a TV aberta irá causar.

Mesmo com todas as contas dos presidenciáveis ganhando centenas de seguidores por dia nas redes sociais, o debate acerca das campanhas limpas e digitais em um país que sofre com a corrupção e com a própria exclusão digital deve ser levado mais em conta.

Definir qual é o papel da imprensa remete a uma questão e uma resposta quase instantâneas. Qual o papel da imprensa nas eleições 2010? A resposta é tão óbvia quanto a pergunta: fazer a lição de casa, ou seja, praticar o jornalismo político.

Texto no Observatório da Imprensa.

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