Um dos primeiros – e primordiais – passos para uma reformulação do jornalismo, e principalmente dos jornais impressos, é a aceitação de que com o advento da web nada será como antes. Ou fazemos a nossa parte, ou os céticos de plantão irão concretizar o sermão de morte da imprensa tradicional.  

Aceitar algo que incomoda nunca é fácil, ainda mais quando se trata de um fato que interfere no senso de comodismo de muitos profissionais de comunicação, na zona de conforto de que tais jornalistas seriam e detinham, sempre, um poder incalculável para com a sociedade.  

O jornalismo passou da mera transposição (em que apenas se transcrevia o conteúdo impresso para os portais noticiosos) para um efeito colateral das novas mídias digitais e seus milhões de usuários ávidos por produzir fatos jornalísticos.  

De um lado, temos os fatores positivos dessa nova mutação da comunicação: tanto a imprensa, os profissionais nela envolvidos, como a própria maneira de consumir informação, foram alteradas. Para vezes, com grandes ganhos. Hoje é possível dispor de textos, áudios e, principalmente, vídeos produzidos por cidadãos comuns, tradicionais, que anteriormente mantinham-se como meros e passivos consumidores de conteúdo.  

Um link contínuo

Os chamados prosumers, termo em inglês para designar os produtores e consumidores de informação, devem ser pautados como aliados da imprensa profissional, e nunca como causadores de uma crise financeira e de existência nos grandes meios comunicativos. Chamá-los, entretanto, de jornalistas-cidadãos seria expor exatamente o lado negativo desse “casamento” mídia e sociedade: a maioria das pessoas não possui a formação necessária, muito menos a educação e bagagem que os jornalistas profissionais possuem. Comunicólogos, então, remete termo aos profissionais formados em comunicação. Portando, o jornalismo participativo ou cidadão deve se estruturar em jornalistas da imprensa tradicional e seus cidadãos comuns, os colaboradores da imprensa.  

Com redações cada vez mais enxutas, é obvio observar que os jornalistas não podem estar em todos os lugares em que a notícia ocorre. Nessa linha, os colaboradores da imprensa podem atuar no auxílio para que a mesma possa aumentar seu leque de atuações no que diz respeito ao interesse da sociedade.  

Mesmo sentido que deve ser tratado ao se reportar às notícias mais focadas, com maior localidade e precisão. A imprensa tradicional traça, muitas vezes, um cenário amplo, mais nacional e macro do fato ou da notícia. Os colaboradores da imprensa podem exercer uma atividade ímpar para essa nova reformulação midiática, oferecendo pautas, sugestões, públicos, comentários e estruturas para um jornalismo mais “pessoal” da sociedade.  

Deve-se aliar, sempre, o que de melhor há em uma velha tecnologia com o melhor da tecnologia substituta. Com o jornalismo seria o mesmo: fazer um link contínuo entre as tradições da velha mídia com as melhores propostas de um jornalismo online e colaborativo.  

O lado negativo  

Os jornais tendem a uma reformulação massiva em suas estruturas, e não a um desesperado ato de proclamação por uma salvação através do jornalismo colaborativo. Deve-se deixar claro que os jornais não acabarão e que sua salvação não será feita por meio dos cidadãos colaboradores, mas sim, com o auxílio deles.  

Os grandes centros de mídia são, por vezes, referências em credibilidade e profissionalismo. Um jornal impresso, por exemplo, se traduz em uma marca confiável composta por profissionais formados, respeitados e com enorme bagagem de conhecimentos, tanto técnicos, acadêmicos ou específicos. A maioria dos cidadãos não possui essa formação fundamental para uma boa produção de conteúdo informativo. Ademais, pautas fictícias e fraudulentas já foram motivos de desconfiança por parte de um jornalismo inteiramente produzido por não jornalistas.  

Saber o que é ou não relevante para um determinado contexto histórico e geográfico é papel da imprensa juntamente com a sociedade. Em seu desenvolvimento, essa junção deve ser novamente respeitada. Porém, em sua finalização, cabe à mídia profissional inundar de conhecimentos críticos e análises profundas o que será, efetivamente, taxado como informação a ser publicada.

Texto no Observatório da Imprensa.