Estamos vivendo uma era de turbulências, sobretudo no relacionamento entre pares no meio digital. Em meio ao caótico universo de conteúdo publicado, duplicado e replicado, fake news, campanhas de difamação ou ataques gratuitos sobram aos montes. Esbarram-se nas esquinas morais aqui e acolá.

Acontece que dentro desse universo rola também o que muitos classificam como “direito ao esquecimento“, termo já empregado, inclusive, na área jurídica. O usuário – ou sujeito, antes de mais nada – pode requisitar que aquele flagra registrado em foto, aquele vídeo no qual fazia declarações embrigadas ou algum dado que ele não queria que vá a público sejam “esquecidos”.

Porém sabemos que nessa memória metálica, que nada esquece e só acumula (termo da Eni Orlandi), requisitar um esquecimento é quase impossível, sobretudo enquanto o cabo da internet global ainda estiver em funcionamento. Com internet, não tem esquecimento. Ou você realmente crê que as fotos da atriz Carolina Dieckmann simplesmente “sumiram” da web? Apesar da suma importância que a atriz deu para com quem sofre esse tipo de violência, não dá pra imaginar que algo possa ser retirado, “esquecido” da internet.

Mas gostaria de propor outra reflexão. Uma reflexão que tem como base o “direito ao esquecimento”, mas que não é tão romântica – pelo menos eu não penso assim. Gostaria de refletir sobre o “direito ao erro”. O que isso significa? O sujeito não pediria ao Google ou aos tribuinais para que suas fotos ou vídeos sumissem dos buscadores, mas ele exerceria o direito ao erro. Se no passado ele gostava de verde, por qual motivo ele não pode, atualmente, gostar de azul?

A forma bruta com que o passado é lidado, principalmente nas redes sociais, assusta. E assuta muito. Celebridades, políticos, jornalistas, pessoas comuns que não estão na mídia. Ninguém pode errar. Ou, ainda, ninguém pode mudar de opinião. Propomos, então, mais uma reflexão: o “direito à mudança”, onde um sujeito pode, com o passar do tempo, mudar de opinião, ter outra visão sobre um mesmo assunto, mudar de tom e voz sobre determinado tema. Mudar, modificar, errar. Não esquecer, mas ter a chance de realizar qualquer tarefa sem o medo de ser julgado pelos tribunais da inquisição digital.

Será que rola?